O Trabalho Focado e os grandes gestos

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No ano passado, dentre minhas leituras, estava o incrível Trabalho Focado: Como Ter Sucesso em Um Mundo Distraído, publicado originalmente em inglês, com o título: Deep Work: Rules for Focused Success in a Distracted World. Considero este livro, não apenas um guia de produtividade, mas também, um guia para a profundidade.

Neste post, resolvi destacar apenas um pequeno elemento que aprendi na leitura. Apesar de pequeno, ele tem grande no nome: “Faça Grandes Gestos”1. Antes de começar, quero dedicar este texto ao meu grande amigo Igor Faustino, que assim como eu, é aficionado em produtividade.

A primeira regra do Trabalho Focado tem um nome bastante sugestivo: “Trabalhe Profundamente”, o que definitivamente não acontece com as outras… De qualquer forma, num subtópico desse capítulo encontrei uma ideia tão imprevisível quanto efetiva. Eu costumo passar os olhos pelos tópicos de um capítulo antes de começar a leitura, isso me ajuda a ter uma visão geral do tema, mas quando li “Faça Grandes Gestos”, não sabia o que estava por vir. À essa altura, sei que você deve estar curioso, certo? Então persevere mais um pouco na leitura, porque preciso contar duas histórias curtas para lhe apresentar o conceito.

O grande gesto de J.K. Rowling

Enquanto escrevia As Relíquias da Morte, o último livro da famosa série Harry Potter, a escritora J.K. Rowling tinha, em suas costas, a responsabilidade de amarrar seis outros livros da série para satisfazer seus fãs. Para isso Rowling precisava de toda a energia mental disponível, mas conseguir isso estava cada vez mais difícil em seu escritório em Edimburgo. A própria autora descreveu sua dificuldade numa entrevista da seguinte forma: “Enquanto eu terminava As Relíquias da Morte, houve um dia em que veio o limpador das janelas, as crianças estavam em casa, os cães latindo”. O que Rowling fez? Se hospedou em uma suíte no Balmoral Hotel, localizado no centro de Edimburgo e descrito em Trabalho Focado como: “… um dos hotéis mais luxuosos da Escócia, é um clássico edifício vitoriano, completo, com ornamentos de pedra e uma torre de relógio alta.” A descrição continua por enfatizar o fato de sua localização estar “a poucos quarteirões do Castelo de Edimburgo - Uma das inspirações de Rowling ao imaginar Hogwarts”. A escritora descreve sua estadia da seguinte forma: “Fui para esse hotel porque é lindo, mas não tinha a intenção de permanecer lá”, e continua… “O primeiro dia de escrita foi bom, então, continuei voltando… e acabei concluindo o último dos livros de Harry Potter”.

Mas por que J.K.Rowling decidiu ‘pagar mais de mil libras por dia para escrever na suíte de um antigo hotel localizado na rua onde fica um castelo no estilo de Hogwarts’? Por trás disso está o conceito da estratégia do grande gesto. Cal Newport afirma que o conceito é simples: “ao alavancar uma mudança radical em seu ambiente normal, juntamente, talvez, com um investimento significativo de esforço ou dinheiro, tudo dedicado a apoiar uma tarefa de trabalho focado, você aumenta a importância da tarefa. Esse incremento na importância reduz o instinto de sua mente para procrastinar e injeta motivação e energia”.

O grande gesto de Peter Shankman

O segundo exemplo que gostaria de trazer do livro, antes de falar de uma experiência pessoal, trata-se do grande gesto despendido por Peter Shankman, empreendedor e pioneiro em mídia social. Para cumprir responsabilidades profissionais, Peter acaba passando muito tempo dentro de um avião. Em seu blog, ele descreveu uma experiência específica durante uma dessas viagens: “Preso em uma poltrona com nada na minha frente, sem distração, nada que me fizesse exclamar ‘Nossa, isso é fantástico!’. Não ter nada para fazer senão ficar com meus pensamentos.” Depois desse episódio, ele assinou o contrato de um livro que lhe dava apenas duas semanas para concluir todo o manuscrito. Shankman tinha um prazo curto e uma tarefa bastante exigente em mãos. O que ele fez? Como Newport descreve: “Comprou uma passagem de ida e volta para Tóquio. Ele escreveu durante todo o voo para o Japão, bebeu um expresso na sala da classe executiva, quando chegou em Tóquio, depois, deu meia volta e retornou, escrevendo durante todo o caminho de volta - chegando aos Estados Unidos apenas trinta horas depois de ter partido, com um manuscrito concluído em mãos”. A conclusão de Shankman? “A viagem custou US$ 4 mil e valeu cada centavo”.

No último parágrafo em que Cal Newport fala sobre o assunto, ele explica que “…não é apenas uma mudança de ambiente ou a busca de silêncio que permite maior profundidade. A força dominante é a psicologia de se comprometer seriamente com a tarefa em questão. Colocar-se em um local exótico para se concentrar em escrever um projeto ou tirar uma semana de folga apenas para pensar, ou trancar-se em um quarto de hotel até concluir uma invenção importante: esses gestos empurram seu objetivo profundo a um nível de prioridade que ajuda a desbloquear os recursos mentais necessários”. E conclui, dizendo: “ Às vezes, para ir fundo, você deve, primeiro, exagerar.”

Bem, apesar de os dois exemplos envolverem gastos financeiros significativos, o que, cá entre nós, não é realidade para a grande maioria, fazer grandes gestos definitivamente não se limita a isso! Mas, como então, você poderia adotar a estratégia? Atente-se às palavras de Cal: ‘psicologia’, ‘comprometer seriamente’, ‘local exótico’. Percebe que elas se concentram mais em uma disposição mental aliada a um ambiente que intensifica tudo isso? Se você não dispõe de recursos financeiros para algo assim no momento, seja criativo ao planejar seus grandes gestos. Minha sugestão é: faça uma lista do que seria, possivelmente, o SEU grande gesto. Simplesmente pegue uma folha de papel em branco ou um editor de texto e escreva ideias soltas do que pode se encaixar na sua ideia do conceito. Depois disso, basta filtrar as mais relevantes, as que te fazem ‘encher os olhos’, por assim dizer. Pronto, agora é executar!

O grande gesto de Igor e Giorgio

O meu exemplo pessoal de um grande gesto traz um pouquinho da ideia de investimento, mas principalmente, envolve disposição mental e um ambiente muito agradável. No início do ano, Igor e eu tínhamos um minicurso a preparar para nossa semana acadêmica e o prazo não era dos mais generosos… Numa noite, enviei uma mensagem sugerindo ir à biblioteca municipal para trabalhar na estrutura e conteúdo do curso. Mas, no dia seguinte, pensei melhor e concluí que gastaríamos mais tempo percorrendo as prateleiras de livros do que sentados trabalhando no que era devido. Então sugeri a ele algo que pra nós era incomum. Disse algo como: “Cara, o que acha de fazer uma coisa bem hipster? Conheço uma cafeteria muito boa aqui perto, o que acha de irmos até lá, pedir uma bebida quente (era inverno), abrir o laptop e trabalhar?” Igor topou com empolgação. Pagamos uns R$ 5,00 cada em um chocolate quente e um macchiato, o que não é todo dia que podemos, né… Em resumo, depois de 1 hora, tínhamos toda a estrutura do minicurso no papel e ainda sobrou tempo pra trocar ideias sobre produtividade (nerds!!) e bater papo.

Igor, que atualmente está na Europa (mais hipster do que nunca), concluindo sua graduação, e mesmo assim ainda tem tempo, apesar do fuso-horário não ajudar, pra me socorrer em algum projeto quando fico empacado.

Valeu, meu amigo! Sucesso aí, e vê se volta logo pra cá, temos que repetir a dose!!


  1. A estratégia dos grandes gestos encontra-se nas páginas 119-123 de [Trabalho Focado: Como Ter Sucesso em Um Mundo Distraído], escrito por Cal Newport. 

Giorgio Braz

Giorgio Braz

“As grandes coisas não são feitas por impulso, mas através de uma série de pequenas coisas acumuladas” - Vincent Van Gogh

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