Declutter Digital de 30 dias: fase 1
- 6 minsConcluí minha leitura de Minimalismo Digital, o mais recente livro de Cal Newport, meu escritor favorito de não-ficção, também autor do blog Study Hacks. Depois de escrever o best-seller Deep Work, que aborda mais o contexto profissional, Cal fala sobre a demanda dos leitores por algo dirigido à vida pessoal. Além do trabalho profundo, uma vida igualmente profunda e livre de tantos estímulos de baixa qualidade, muitas vezes responsáveis pela crescente e preocupante fonte de ansiedade nos dias de hoje.
Sobre a leitura, vou me limitar a dizer que é muitíssimo fluida e prazerosa. Se fosse dizer mais, o texto ficaria muito grande. Portanto, este post não se trata de uma resenha, mas sim em descrever o início do meu processo de declutter digital de 30 dias. Após esse período, escreverei outro post sobre a experiência. A seguir, listo e explico brevemente as etapas para iniciar e prosseguir com a limpeza digital e minhas estratégias personalizadas para aplicá-la nos próximos 30 dias.
1º Passo: Determinar tecnologias opcionais e procedimentos operacionais
Tecnologias opcionais: tecnologias que você pode se afastar, por pelo menos 30 dias, sem criar danos ou problemas importantes em sua vida profissional ou pessoal.
- Netflix e serviços similares
- Sites de notícias e entretenimento em geral
Procedimentos operacionais: especificam exatamente como e quando você usa determinada tecnologia. Isso permite manter alguns usos cruciais sem ter acesso irrestrito.
NOTA: Usarei a abreviação BPP para me referir aos blocos previamente programados, que são períodos do dia em que eu me permito ficar online.
- Navegador
- Caso surja uma dúvida, curiosidade ou qualquer motivo para consulta online, vou tomar notas para pesquisar em um BPP. Para evitar buscas por força do hábito, usarei um aplicativo para bloquear certos sites e aplicativos.
- YouTube
- Usarei apenas para videoaulas ou tutoriais nos horários de estudo.
- Aplicativos de produtividade e comunicação
- Adotarei uma técnica chamada Touch Once, isso significa que quando abrir o e-mail, precisarei eliminar algo de lá. Isso me fará pensar melhor antes de acessá-lo. O mesmo vale para apps como calendário ou lista de tarefas, exceto quando precisar consultar minha disponibilidade antes de agendar algo ou adicionar um tarefa relevante. Para entradas com baixa prioridade, tomarei notas em uma caderneta para, posteriormente, lançá-las nos apps, caso ainda fique pendente.
- Músicas e podcasts
- Apenas a reprodução de álbuns (não playlists) e episódios do meu feed baixados em um BPP. Explico mais sobre isso no subtópico Abrace a mídia lenta.
- Notificações de push
- Habilitarei apenas quando depender de comunicação ininterrupta para tratar de questões urgentes e não triviais (segundo Dwight Eisenhower em sua famosa matriz, ser urgente não implica em ser importante).
2º Passo: redescobrir atividades e comportamentos que eu considero satisfatórios e significativos
Para isso, vou me esforçar em incluir na minha rotina várias práticas sugeridas no livro. A seguir, listo e descrevo brevemente cada uma das que selecionei para mim:
Práticas
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Passe um tempo sozinho: a solidão, desde que não prolongada, pode ser uma fonte de autoconhecimento, um momento cada vez mais escasso em nossas rotinas tumultuadas, onde negligenciamos, sem perceber, os danos envolvidos;
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Deixe seu smartphone em casa: essa prática visa mostrar o quanto estamos apegados a esse gadget, supervalorizando-o e deixando que interfira em momentos inadequados, além da já tão conhecida dependência.
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Faça longas caminhadas: são tantos benefícios já bem conhecidos que não vou descrevê-lo mais. Ainda assim, a tática é simplesmente caminhar sem nenhum outro acessório digital, já que quero estar totalmente presente. Portanto, não usarei fones de ouvido aqui.
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Escreva cartas para si mesmo: mais uma fonte de autoconhecimento aqui, além de ser um hobby natural pra mim.
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Amplie as mensagens de texto: objetiva usar os aplicativos de mensagens logisticamente. Isso quer dizer não usá-los para conversar e sim para tratar de assuntos imediatos ou mesmo marcar encontros presenciais com amigos ou atividades profissionais/acadêmicas. Paradoxalmente, o argumento é que diminuir a interação por texto, me aproximará das pessoas, já que precisarei marcar um passeio, ou algo do tipo, para uma interação mais rica. Isso me tornará um amigo muito melhor;
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Horário de funcionamento para conversas: uma ideia genial. Quer dizer que vou definir horários fixos para que pessoas próximas possam me ligar. Muitas vezes deixamos de ligar para pessoas queridas com medo de atrapalhar alguma atividade importante. Essa tática elimina tal receio. Aliás, se você estiver lendo isso e tiver meu número, fique à vontade pra falar comigo qualquer dia, às 17:40. Estou ansioso por isso! ☎️😌
Recuperando o lazer
- Conserte ou construa algo semanalmente: planejo aprender conceitos básicos de eletrônica pra colocar a mão na massa, ou melhor, nos fios aqui de casa;
- Programe o lazer de baixa qualidade: como checar as redes sociais, por exemplo. Como eu não as uso, isso vai ser mamão com açúcar;
- Planeje o lazer semanal e sazonal: consiste em fixar alvos pequenos e flexíveis para atividades realmente revigorantes, como aprender uma nova música na guitarra. No caso do ‘lazer sazonal’, poderia ser convidar pessoas para ouvir e cantar as novas músicas que aprendi. No meu caso, gostaria de terminar minha próxima sessão de RPG.
Unindo forças em defesa da atenção
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Transforme seus dispositivos em computadores de uso específico: aqui, outra ideia genial. Já que não somos multitarefa, não faz sentido realizar várias tarefas ao mesmo tempo. Para isso, mais uma vez farei uso do aplicativo de bloqueio enquanto me empenho numa tarefa cognitivamente exigente;
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Abrace a mídia lenta: pra não correr o risco de me ver preso a algum feed ou site que recomenda conteúdos com base no que se consome, como o YouTube faz, selecionarei mídias para meu consumo posterior, sempre offline. Para isso, enviarei artigos e posts pra ler no meu Kindle, usando uma extensão para o Google Chrome chamada Send to Kindle. Além disso, farei download de músicas e podcasts para ouvir offline. No caso das músicas, gostei muito de uma experiência que li no livro sobre um leitor que ouvia um disco inteiro em sua vitrola e sem usar fones de ouvido. Isso elimina algo que me frustra com frequência, ficar procurando a música perfeita no Spotify. Isso quer dizer que não vou ouvir playlists durante esses 30 dias, mas apenas álbuns que escolhi a dedo. Estou realmente empolgado com isso!
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Abandone o Smartphone: Essa dica vou adaptar em partes, porque a ideia aqui é, segundo a possibilidade de cada um, usar um aparelho que permita apenas fazer e receber ligações e talvez mensagens de texto. Como já aprendi a duras penas, essa não é minha realidade atual. Então, vou manter apenas aplicativos essenciais pra mim e mantê-lo no modo não perturbe.
Finalmente, o objetivo desse declutter não é me abster das maravilhas que a tecnologia nos traz atualmente. Como estudante de Ciência da Computação, reconheço e aprecio muito o que essas ferramentas fazem por nós. Justamente por isso quero fazer o possível para usá-la totalmente a meu favor e não ser dominado por ela. Deixo aqui, uma citação do livro sobre esse aspecto importante:
“Comece a redescobrir do que você mais valoriza e gosta! No final dos 30 dias, terá mais claro na mente como usar a tecnologia como um meio para um fim e saberá quais são esses fins.” (Minimalismo Digital, por Cal Newport)