Resenha: The Inner Light

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The Inner Light é o 25º episódio da 5ª temporada de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, ele foi ao ar pela primeira vez em 1º de junho de 1992, mas o conheci muito tempo depois disso. Além de ser o meu, também é o favorito de grande parte dos fãs da série e não é pra menos! Se você teme encontrar aqui um texto de pura ficção científica, já aviso que a ciência é apenas um pano de fundo, o foco definitivamente não é esse!

Sei que muitos dos que lerão isto nunca viram um episódio de Jornada nas Estrelas antes, então permita a este nerd aqui fazer uma breve introdução: A série conta a história da nave estelar U.S.S. Enterprise e sua tripulação em missão de exploração interplanetária. O nome sugere o que realmente é, uma grande jornada entre as estrelas, descobrindo novos planetas, novas culturas, vidas e civilizações. Cada episódio te transporta para mundos inexplorados, como a própria abertura diz: “…indo onde nenhum homem jamais esteve”. O universo físico sempre me fascinou, minha mãe conta que, quando criança, eu pedia pra observar a Lua e a chamava de ‘minha namorada’. Há algo de misterioso quando se olha pra cima e Jornada nas Estrelas supriu minha necessidade por me fazer refletir sobre o que pode haver lá, se um dia explorarmos o espaço. É claro que há uma grande parcela de ficção e imaginação, mas também existem temas científicos relevantes que tratam não só da física, mas de possíveis reações humanas frente ao inesperado. Jornada nas Estrelas é uma viagem e tanto, se você gosta disso, assista! Agora, vamos ao episódio…

Como de costume, a tripulação identifica um objeto aparentemente à deriva no espaço e logo percebem se tratar de uma simples sonda, nada demais até aqui… Mas então essa sonda começa a emitir um feixe incomum de partículas, penetrando os escudos da Enterprise e fazendo com que o capitão Jean-Luc Picard perca os sentidos. Quando Picard retoma a consciência, enxerga o rosto de Eline, que parece cuidar dele com preocupação. Picard, que sem entender o que está acontecendo, achando estar numa simulação no holodeck, pede explicações à jovem mulher com a mão em seu rosto.

Picard, então, é informado de que está em casa. Eline o chama por um nome que ele nunca ouvira antes: Kamin. E, por um momento, nada parece fazer qualquer sentido. Num esforço de se lembrar de algo, Kamin (Picard) pergunta a Eline o que ele faz da vida, quando ela o descreve como ‘o melhor moldador de ferro’ e também o mostra um instrumento musical exótico, a flauta rassikana, algo que Kamin insiste em aprender, porém sem muito sucesso… Aos poucos o confuso capitão, que apesar de sua determinação em buscar por sua nave e tripulação, vai se acostumando com o fato de que ele está em um ‘primitivo vilarejo de Ressik, do planeta Kataan’. Picard agora tem uma família: sua esposa Eline (com quem se casou há 3 anos, embora não exista traços disso em sua memória). Ele também tem um grande amigo, Batai, cuja ligação é profundamente recíproca, tanto que, ao falecer (sim, Picard vive tanto tempo nesse ‘novo mundo’, que acaba presenciando a morte do seu melhor amigo) que batiza seu filho com o mesmo nome.

Aos poucos percebemos Picard ficando totalmente adaptado à sua nova vida. Tem um casamento feliz, e dois filhos. Toda a sua vida anterior, a Enterprise, sua tripulação… agora parecem apenas um devaneio de quem esteve doente e delirante. Picard ainda possui todo o seu conhecimento científico e, por estudar incansavelmente o planeta e aquela região espacial, percebe que aquela civilização à qual faz parte está destinada à inexistência, já que ‘o solo do planeta está ficando estéril devido a radiação da estrela que está morrendo’. Ao propor uma estratégia para tratar do problema, por ser totalmente futurista, os líderes locais a rejeitam…

Diante da situação, a única solução explorada é salvar alguma coisa daquele planeta e de sua civilização, então eles começam a lançar sondas espaciais não tripuladas que chegam, no máximo, à órbita do planeta. Além de Batai, Picard (ou Kamin) também perde sua esposa por morte natural. Agora, viúvo e idoso, Picard é ‘adorável com seus netos e amado pelos filhos’. Com seus 85 anos de idade, a seca no planeta atinge um estado crítico.

Agora, vemos Picard, junto de seus filhos, assistirem ao lançamento de um foguete. Nesse momento, vou me render ao texto mais do que incrível do pessoal do Trek Brasilis (o melhor blog de Jornada nas Estrelas brasileiro que eu conheço) para descrever o que vem a seguir:

“ Perguntando a sua filha o que era aquele foguete, Meribor responde “Você sabe o que é pai. Você já a viu antes”. Ao insistir que não sabia, ele ouve a voz do seu velho amigo Batai dizer “Sim, você sabe. Você não se lembra?”. Kamin se espanta ao ver que junto aos filhos, está Batai não mais morto, mas jovem, da mesma maneira que ele o viu pela primeira vez. “Você a viu antes de vir até aqui. Nós tínhamos a esperança que nossa sonda encontraria alguém no futuro. Alguém que poderia ser um professor, alguém que poderia contar aos outros sobre nós”. Kamin ainda confuso ouve agora a voz de sua esposa, que também está jovem: “O resto de nós se foi a mil anos atrás. Se você se lembrar o que nós fomos e como vivemos, então nós encontraremos a vida novamente. Agora nós vivemos em você. Conte a todos sobre nós… Meu amor”.

Nessa parte, conter as lágrimas torna-se um esforço hercúleo! Na sequência, Picard acorda na Enterprise. Ainda confuso e desorientado, percebe que esteve desmaiado por 25 minutos. É então que nosso amado capitão se dá conta de que viveu uma vida inteira em 25 minutos!!! Tudo ficou pra trás, tudo que parecia tão forte e real se tornam relações inquebráveis e tênues, ao mesmo tempo, num ponto de vista paradoxal poético. Tentando processar tudo, notamos Picard reservado e pensativo, como se tivesse deixado algo passar. É aqui que lhe é entregue uma caixa retangular, algo que a tripulação resgatou de dentro daquela sonda à deriva. Ao abri-la, Picard encontra a flauta de Kamin, ele a segura e pressiona-a sobre o peito como algo a apegar-se frente a todas aquelas emoções… Ele dá alguns passos em seus aposentos até chegar à janela, frente a todas aquelas estrelas e, habilmente, toca sua música na flauta. O episódio termina, mas deixa um sentimento no ar e você quer muito senti-lo.

Esse episódio tem um significado todo especial pra mim! Picard é uma figura paterna em minha vida. O homem dedicado e íntegro, sempre gentil, que gosta de chá Earl Grey quente, de arqueologia e de passar tempo sentado numa poltrona de couro com um livro clássico de capa dura nas mãos. Tem forte moral e valores e sempre prioriza a necessidade de sua tripulação. Tem apreço pelos detalhes e enxerga, como poucos, cada nuance das relações humanas, valorizando sua beleza peculiar.

The Inner Light, ou Luz Interior, inspirado na música dos Beatles e vencedor do Prêmio Hugo de melhor apresentação dramática de 1993, cujo tema fez parte da apresentação da Orquestra Alemã Symphonic Wind Band of Landau, é o episódio favorito dos atores Patrick Stewart, que interpretava o capitão Picard, e Wil Wheaton. É belamente descrito pelo post do Trek Brasilis como responsável por te fazer ‘mergulhar profundamente nas emoções, falando direto ao coração’.

Espero que este texto tenha despertado em você pelo menos parte do que fez por mim!

Fontes

Os 20 anos de Inner Light
Wikipedia.org
Crédito de imagem: Otis Frampton

Giorgio Braz

Giorgio Braz

“As grandes coisas não são feitas por impulso, mas através de uma série de pequenas coisas acumuladas” - Vincent Van Gogh

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