A dificuldade como métrica do esforço

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Por que certas tarefas ou habilidades são tidas como cognitivamente exigentes? O que nos faz suspirar e exclamar: “aah, isso é muito complicado!” Como medimos o que é fácil e o que não é? Isso depende de vários fatores, é claro. Alguns encontram maior facilidade do que outros nessa ou naquela atividade talvez por uma predisposição natural ou porque, ao longo da vida, foram mais expostos a elementos que são mais úteis em determinadas áreas. Mas, no geral, todos podem aprender praticamente qualquer coisa que desejarem, só precisam estar dispostos a investir, e aqui está a palavra chave: tempo.

Uma coisa é fato, temos muito mais facilidade e energia para aprender novas habilidades quando criança. Não vou me concentrar na explicação científica da coisa, mas sabe-se que somos mais flexíveis e abertos nos primeiros anos de vida, quando nosso cérebro está em plena formação… Talvez você já tenha apreciado as belíssimas composições de Frédéric Chopin (ele é um dos meus compositores favoritos). O brilhante pianista realizou seu primeiro concerto quando tinha apenas oito anos de idade! Digno de nota é que Chopin nasceu respirando música, uma vez que sua mãe era pianista. De acordo com seus biógrafos, ainda bebê, o garoto engatinhava pra debaixo do cravo de sua mãe e a ouvia tocar… E ali, as primeiras ondas sonoras tão bem escolhidas e afinadas tocavam seus ávidos ouvidos.

Mas a idade não precisa ser um fator determinante. Mais do que qualquer computador super avançado, nosso cérebro é um gênio e está preparado para aprender praticamente qualquer coisa. Se você estiver disposto a colocar seu esforço em algo, por mais limitado que você se sinta, ficará surpreso com o que pode conseguir.

O fator ‘tempo’

É bem comum querermos aprender uma nova habilidade tão rapidamente que começamos a buscar atalhos. Quem nunca encontrou anúncios do tipo: “Aprenda inglês fluente em trinta, sessenta, noventa dias… E isso é apenas um exemplo. Acontece que, para aprender e consolidar algo novo leva tempo. Armazenar um novo conhecimento na memória de longo prazo requer, muitas vezes, prática e repetição, o que não é muito conveniente a uma geração mais imediatista. Não quero dizer com isso que nunca podemos tomar atalhos (eles podem ser úteis). Por exemplo, se é sua intenção se lembrar de algo por curto prazo, como uma prova que você sabe não precisar do conteúdo de novo tão cedo, estudar em cima da hora vai cumprir seu papel (note que não estou recomendando isso, apenas reconhecendo sua eficácia momentânea). De qualquer forma, o ideal é manter o contato frequente com um conteúdo (se for teórico) ou com a atividade (se for prática, como tocar um instrumento musical) por tempo prolongado, até seu total domínio ou até sentir-se confortável o bastante.

Existe um conceito em Engenharia de Software que eu gosto de aplicar pra quase tudo na minha vida, é o ’dividir para conquistar’. Isso envolve, sempre que possível, quebrar um objetivo em tarefas menores (talvez até bem menores). Vou usar o exemplo do instrumento musical: Se você quer aprender Ukulele, é muito melhor estudar uma hora por dia, durante vários meses, do que passar vinte horas seguidas com o instrumento nas mãos. Benjamin Franklin ficou conhecido por sua estratégia de dedicar-se no mínimo uma hora diária, durante várias semanas, para aprender algo novo. A curto prazo isso pode não parecer grande coisa, mas a recompensa vem com o tempo e, vale lembrar: quanto maior o esforço, maior também a recompensa!

“Se você encontrar um caminho sem obstáculos, ele provavelmente não leva em qualquer lugar”. - Frank Clark

Seja realista

Incluí esse tópico como uma desculpa para falar da estratégia usada por um amigo meu durante o semestre letivo. Para cada tarefa, seja uma lista de exercícios, um trabalho ou projeto final de alguma disciplina, ele atribui uma tag para medir a dificuldade e, por consequência, estimar o tempo para conclusão. Isso dá um feedback visual e imediato ao decidir por onde começar. Ele também quebra uma tarefa maior em pequenas partes. Às vezes, simplesmente não podemos fazer tudo o que gostaríamos, algo pode dar errado, novos prazos podem surgir, então não culpe-se quando, mesmo depois de planejar, o resultado não sair com perfeição. Muitas vezes (pra não dizer quase sempre) feito é melhor que perfeito! (E me dói admitir isso, estou tentando deixar o perfeccionismo). Concentre-se no essencial, depois disso, se o tempo permitir, você pode fazer incrementos.

“Um gênio é uma pessoa de talento que faz toda a lição de casa” - Thomas Edison

Faça pausas

Não raro, ouço as pessoas comentando: “aah, se eu começo a fazer algo, não consigo parar, tenho que ir até o fim.” Isso mostra determinação, é verdade, mas você pode parar pra tomar uma água às vezes e, ainda assim, ser determinado. Acontece que, quando passamos muito tempo seguido fazendo uma única atividade, especialmente se envolve energia mental, nosso cérebro se cansa e nosso rendimento cai. Fazer uma pausa não quer dizer que você falhou em concluir, você apenas dá nova energia e até uma nova perspectiva ao seu cérebro. Já aconteceu de você encontrar a solução para um problema quando está fazendo algo não relacionado a ele, por exemplo, quando você está tomando banho ou lavando a louça? Isso acontece porque seu cérebro trabalha no problema em segundo plano, mesmo que você não esteja pensando diretamente nele. Não é maravilhoso ter aquele ‘Momento Eureka’?

Grandes mentes do passado já reconheciam a importância de parar e descansar. Einstein gostava de tocar violino, Beethoven de fazer longas e vigorosas caminhadas. E, diz a lenda, que Thomas Edison, o mesmo cara que patenteou a lâmpada e mais de outras duas mil patentes, também interrompia o seu trabalho criativo. Ao descrever a tática usada por Thomas Edison quando enfrentava um bloqueio criativo, Barbara Oakley conta, em seu livro Aprendendo A+ Aprender, que ‘Edison tirava uma soneca… Mas ele fazia isso sentado em uma poltrona, segurando um rolamento de aço acima de uma frigideira ou chapa de metal no chão. Quando ele relaxava, seus pensamentos passavam para o livre e aberto modo difuso do cérebro’ (quando tiramos o foco da tarefa principal e permitimos que o cérebro faça um maior número de ligações entre caminhos neurais) ‘e quando Edison dormia, o rolamento caía de sua mão. O barulho o acordava e ele agarrava os fragmentos de seus pensamentos em modo difuso para criar novas formas de enfrentar o problema.’ É verdade que não há registros históricos de que Edison empregava essa tática, sendo provável que, com o passar do tempo, ela passou a ser parte de sua mitologia, mas é bem provável que ela tenha alguma base na realidade.

“Você não pode resolver um problema com a mesma mente que o criou”. - Albert Einstein

Divirta-se!

Finalmente, ao aprender, não se leve muito a sério. Há quem defenda que estudar não tem que ser prazeroso e, de fato, muitas vezes não o é. Mas, na medida do possível, tente ver o valor prático naquilo, até porque, ter uma disposição mental positiva contribui para o aprendizado e melhora a vida em todos os seus aspectos. Minha dica é: encare cada erro como um aprendizado também, isso deixa o processo todo muito mais leve e agradável.

“Eu não falhei. Apenas descobri mil maneiras que não funcionam” - Thomas Edison

Giorgio Braz

Giorgio Braz

“As grandes coisas não são feitas por impulso, mas através de uma série de pequenas coisas acumuladas” - Vincent Van Gogh

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